HQ Memória: novembro 2009 Untitled Document




































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terça-feira, novembro 24, 2009

TUBARÕES VOADORES – A HQ QUE VIROU MÚSICA

Não é novidade que os quadrinhos e a música tem andado de mãos dadas há muito tempo, no HQ Press publicado em Sandman #07 (Editora Globo, maio/1990), Sidney Gusman elencou os principais “flertes” destas duas artes:
- Músicas / músicos / bandas que viraram quadrinhos.

- Personagens de quadrinhos que inspiraram letras de música.

- Citações de músicas nas hq’s.

Diversas bandas utilizaram os quadrinhos em seus encartes para ilustrar suas músicas como a banda Kães Vadius no álbum “Psychodemia” (Ataque Frontal – 1987), onde o encarte era uma gigantesca HQ que amarrava todas as letras em uma única história. Mas os méritos para a primeira HQ a virar música pertencem a “Tubarões Voadores” de Arrigo Barnabé e Luíz Gê.

No início dos anos 70 na USP, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, dois colegas de curso: Arrigo Barnabé e Luiz Gê iniciavam suas carreiras. Enquanto Luiz Gê publicava seus primeiros trabalhos, Arrigo Barnabé começava a traçar o seu caminho que o levaria a ser o porta-bandeira do movimento musical chamado “Vanguarda Paulistana”. Arrigo era recém chegado na cidade de São Paulo, e Luiz Gê foi quem o guiou pela cidade revelando os detalhes ocultos da narrativa urbana que somente São Paulo possui, narrativa essa que ele empregava em seus quadrinhos, cuja paixão contagiou o colega.

Em 1980, Arrigo Barnabé após um desentendimento com a gravadora Polygram, lança de forma independente o seu primeiro LP, o álbum “Clara Crocodilo” (15 de novembro de 1980), cuja arte da capa foi feita por Luiz Gê. “Clara Crocodilo” consagrou a influência que Arrigo teve das hq’s. Das oito faixas do disco, seis descrevem tipos e situações da noite paulistana, enquanto as outras duas faixas, narram o surgimento do anti-herói mutante Clara Crocodilo, que enfrenta cientistas inescrupulosos e a própria polícia. Era a linguagem dos quadrinhos transposta para a linguagem musical.

Em 1984 sob contrato da gravadora Ariola (que pouco tempo depois foi comprada pela Polygram), Arrigo Barnabé recebeu sinal verde para produção de um novo disco, que inicialmente se chamaria “Crotalus Terrificus” cuja arte foi encomendada ao amigo Luiz Gê. Os primeiros esboços para a capa do álbum eram de uma cobra na forma de uma clave (coincidentemente o segundo lp de Itamar Assumpção lançado na mesma época utilizou uma arte semelhante em sua capa). Um dia Luiz Gê recebeu a visita de um amigo em sua casa, onde este ao observar um pôster dos Tigres Voadores (esquadrilha aérea composta por aviadores americanos, cuja característica visual em seus aviões P-40, era uma enorme boca de tubarão pintada), deu a idéia de uma hq protagonizada por eles, porém dentro da cidade. Imediatamente Luiz Gê estalou a idéia de ao invés de aviões, seriam tubarões, tubarões voadores e iniciou os esboços de modo tão frenético que deixou o amigo pasmo. Nos dias que se seguiram, foi-se montando o roteiro da história e acertando os detalhes, até finaliza-la.

Quando Arrigo Barnabé foi em seu ateliê para tratar sobre o disco novo, viu a hq dos tubarões e disse: “Ah!! Luis Gê, vou musicar essa historinha e o disco vai chamar “Tubarões Voadores”. O que era um antigo projeto de ambos, fazer uma hq com trilha sonora se concretizou naquele momento.

Medindo o tempo de leitura de cada quadrinho, Arrigo Barnabé foi musicando quadro a quadro, obtendo um resultado surpreendente, algo inédito até então. Redefinindo o nome do álbum para “Tubarões Voadores” cuja faixa-título abria o lp, manteve a hq completa sob a forma de encarte do álbum.

Lançado em 1984 numa parceria da Ariola/Barclay, que levou Arrigo Barnabé a obter reconhecimento internacional, e foi eleito pela revista Jazz Hot como um dos melhores álbuns do mundo, pois ali ele repetia a receita utilizada em “Clara Crocodilo”: o uso da linguagem dos quadrinhos em sua música.

O show “Tubarões Voadores” viajou o Brasil, em um espetáculo completamente teatral, com um cenário inovador, onde chamava a atenção uma rampa por onde descia um carro em alta velocidade. Os cenários, figurinos e a iluminação reproduziam com exatidão a historia em quadrinhos do Luis Gê, numa antecipação em muitos anos de Sin City.

Enquanto isso a hq foi “republicada” no jornal independente “Extra”, e nos livros “Território de Bravos” (Luiz Gê – Editora 34 – 1993) e “Análise textual da história em quadrinhos: uma abordagem semiótica da obra de Luiz Gê” - Antônio Vicente Pietroforte e Luiz Gê (Editora Annablume – setembro/2009).

Em 1999 o álbum “Clara Crocodilo” foi lançado em cd, pouco tempo depois foi a vez de “Tubarões Voadores”, onde para se adequar ao formato do cd, Luiz Gê teve de reestruturar o encarte com a hq. Hoje esses cd’s se encontram fora de catálogo.

Enquanto em “Clara Crocodilo” tinha-se um anti-herói pelos esgotos e subterrâneos de São Paulo, em “Tubarões Voadores” ganhamos enormes tubarões voando sobre as ruas, devorando adultos e crianças. Ali Luiz Gê através dos tubarões, sintetizou todo o medo e paranóia da classe média, que se tranca dentro de seus apartamentos e carros vedados com insulfilm se isolando dos demais habitantes, por não se sentirem seguros. Onde um passo em falso, uma janela aberta na hora errada, pode resultar em uma absurda tragédia. A hq começa em tom de humor, humor negro, diga-se de passagem, evoluindo para o puro terror, onde a violência é mostrada sem glamour ou justificativa, entre cada ataque dos tubarões são mostradas cenas de violência urbana cotidianas de qualquer cidade: acidentes, mutilações, crimes, atropelamentos e suicídios. Tudo isso se encerra com a cena final de um corpo sendo dilacerado por vários tubarões sob a legenda: “Pois no coração do prudente, repousa a sabedoria”.
Para transpor para a música todo esse clima de terror e medo, Arrigo Barnabé dividiu os vocais com Vânia Bastos, e introduziu a superposição de vozes e instrumentos em tonalidades diferentes para criar a percepção de profundidade do desenho, dando a ilusão de movimento. A utilização de citações musicais (ciranda, cirandinha) ajudam a dar clima à cena, e a hq reforça a dimensão sangrenta e dolorida, tornando visualmente impossível escutar a música de maneira entorpecida.

Agora, tranquem portas e janelas, coloquem os cadeados nos portões e acompanhem agora o vídeoclip não-oficial de “Tubarões Voadores” feito pelo fã Jeffin.

Consulta bibliográfica:

http://bethsalgueiro.multiply.com/journal?&page_start=20

Façanhas às próprias custas: a produção musical da Vanguarda Paulista (1979 – 2000) - José Adriano Fenerick

Revista Graffiti 76% Quadrinhos # 04 (1998)

Trilha Sonora: Topografia semiótica paulistana nas canções independentes das décadas de setenta e oitenta – Fátima Amaral Dias de oliveira (janeiro/1990)

Agradecimento especial ao Luiz Gê, pelas informações forncecidas, que enriqueceram em muito esta matéria.

  • postado Nikki Nixon às 5:13 PM


  • domingo, novembro 15, 2009

    QUANTO VALE O SEU GIBI?


    Quanto vale o gibi que você quer vender ou aquele que você quer comprar? Aqui no Brasil não temos guias de compras ou listas de preços de quadrinhos antigos feitos de forma idônea e confiável, a exemplo dos EUA e parte da Europa. Houve apenas uma tentativa feita nesse sentido pela equipe editorial da Wizard Brasil (Ed. Globo – 1996), onde a cada edição apresentava uma tabela de preços de determinado título. Muitos gostavam da iniciativa entretanto outros criticavam pela ausência clara dos critérios usados para cotar cada edição. Mas afinal o que faz uma revista valer mais?

    Nem toda revista antiga ou n° 1 vale tanto para quem compra ou vende. É preciso entender um pouco sobre o mercado de quadrinhos aqui no Brasil, o histórico das editoras e dos títulos. Um dos fatores que diferencia o valor de uma HQ é a tiragem, edições de tiragem reduzida ou limitada tendem a ser mais valorizadas. Um exemplo é a série Akira, publicada pela editora Globo, em que os primeiros números são fáceis de encontrar, tanto em edições soltas quanto nas versões encadernadas, o que não acontece com as edições de n° 23, 31, 32 e 33 as mais difíceis. Quando a Edição 23 (novembro de 1992) foi publicada, as distribuidoras estavam em greve, de forma que várias cidades ficaram sem esse exemplar. Com as outras edições, as tiragens eram muito reduzidas, tornado-as raras no mercado. Caso semelhante ocorreu com a coleção Gibi Semanal da RGE, onde entre as primeiras e as últimas edições tiveram a tiragem reduzida em mais de 60%. O mesmo episódio aconteceu para os álbuns do Flash Gordon publicados pela EBAL.

    As 29 edições de Mortadelo e Salaminho da Cedibra, nunca tiveram uma segunda tiragem, e hoje essa coleção é muito bem cotada. Como outro exemplo, o encadernado de Watchmen editado pela Abril, sem nada especial, era apenas o encalhe da mini original em 6 edições encadernadas em capa mole, sem nenhum extra e, como foram poucas edições colocadas a venda, tornou-se objeto de desejo entre os colecionadores devido a popularização do título. Não basta o gibi ser raro, precisa haver a procura aliada a dificuldade de encontrá-lo na disputa por obtê-lo, o que o valoriza ainda mais.

    Outro caso curioso aconteceu com Sandman – Prelúdios e Noturnos, em que o primeiro arco (07 edições originais) foi publicado solto e encadernado pela Editora Globo, encadernado em preto e branco pela Brainstore, solto pela Metal Pesado, encadernado pela Conrad, e encadernado em dois volumes pela Pixel. Em teoria, o mercado estaria abarrotado dessas edições, mas quando a Conrad anunciou que não iria soltar uma segunda tiragem de seu encadernado ele se esgotou rapidamente gerando, em tempo recorde, uma valorização absurda e especulativa da edição nos sites de leilão na internet. Alcançou valores de até 10 vezes o preço original de capa pois os colecionadores não queriam ter sua coleção defasada, mesmo com as histórias já publicadas.

    Há alguns anos as revistas dos anos 50, 60 e 70 de editoras como EBAL, RGE, La Selva, Trieste, Gorrion entre outras, tinham seu valor bem mais alto que os de hoje proporcionalmente falando, pois alguns fatores influenciaram na queda dos preços:

    - O número de colecionadores desse material, se reduz com o passar dos anos, seja por terem suas coleções completas ou mesmo por óbito.

    - A nova geração de colecionadores pouco busca esse material por ignorá-las ou pela preferência pelas modernas reedições com nova tradução e tratamento gráfico aprimorado.

    - A reedição de quadrinhos que antes só se encontravam em edições antigas aumenta a cada ano, republicando-os em formato original, em volumes encadernados e com material extra, como entrevistas, artes conceituais, páginas extras, entre outras.

    Consequentemente, o número de edições à disposição no mercado tem superado a procura, levando a queda de preços.

    Hoje os formatinhos tão populares entre os anos 70 e 90 estão sendo abandonados por muitos colecionadores. O lançamento contínuo de encadernados e coleções especiais reeditando grande parte desse material já publicado com cortes, textos resumidos, compactados ou dispersos em diversos títulos, tem feito o leitor/colecionador optar por manter edições mais luxuosas e selecionadas, dispensando os antigos formatinhos hoje encontrados facilmente a preço de centavos. Em virtude dessa nova oferta de mercado, a busca por formatinhos vem reduzindo ao longo do tempo em igual proporção da sua oferta.

    Mas a regra do mercado para os formatinhos não é apenas essa. Enquanto os formatinhos de grandes editoras como RGE/Globo, Abril vem caindo na cotação do mercado, os da Bloch Editores sobem, e esses formatinhos hoje tem quase o status de “Cult”, pelo tratamento editorial único dado até hoje para uma HQ. Fazendo uma breve análise, os formatinhos da Bloch eram mal impressos, não respeitavam as cores originais dos uniformes dos personagens, abuso de gírias da época nos textos, e tinham cores berrantes quase psicodélicas. Mas com tantos pontos negativos porque essa demanda atual para essas revistas? O fato é terem marcado uma fase única editorial brasileira, pelos títulos e histórias até hoje não reimpressas, sem falar da sua própria excentricidade que atrai hoje o colecionador que há poucos anos os renegava.

    No departamento de quadrinhos Disney, as HQ’s contendo histórias escritas e desenhadas por Carl Barks sempre foram disputadas e, recentemente, a Editora Abril relançou toda a sua obra numa coleção primorosa, bom acabamento e repleta de informações até então inéditas ao leitor. Mesmo assim, os quadrinhos Disney antigos não sofreram uma queda forte nos preços, pois cada revista antiga compunha um mix de personagens e autores, além das diferenças nas cores e tradução, e que não foram abandonados pelos colecionadores em favor da nova coleção da Editora Abril.

    Mesmo com tudo já colocado aqui, alguns títulos/gênero fogem totalmente de todas as regras tais como Fantasma, Mandrake, Tarzan e as HQ’s de faroeste que permanecem com boa demanda, sendo muito bem valorizadas entre vendedores e colecionadores. Por serem tão históricos e marcantes em nosso mercado, são quadrinhos de extremo apelo popular com: histórias simples, divertidas, sem grandes sagas se dividindo ao longo de diversas edições, fazendo com que o leitor ocasional possa lê-las tranquilamente sem se preocupar com as outras edições. Já o gênero do faroeste é reforçado pelo cinema que tem um número alto de fãs, enquanto os leitores antigos garimpam edições antigas de Roy Rogers por exemplo. Os mais novos disputam a tapa os exemplares antigos de Tex e Zagor e, apesar da diferença de idade, esses leitores/colecionadores que se comunicam pelo gosto em comum fortalecem e valorizam o gênero no mercado.

    Assim como nos livros, edições autografadas tem maior valor por serem únicas e exclusivas, e aqui no Brasil, os fãs ainda levam suas HQ’s aos festivais e convenções para serem autografadas pela admiração ao trabalho dos artistas para suas coleções particulares, enquanto que nos EUA essa paixão em grande parte cedeu espaço ao comércio, onde uma HQ autografada hoje está disponível no ebay. Essa prática comercial ainda é tímida em nosso mercado.

    Não basta conhecer as regras e exceções do mercado de comercialização dos quadrinhos. Os sites de leilões virtuais não são uma fonte confiável para a cotação de uma revista ou coleção, mas servem de parâmetro para analisar a sua demanda. Conversar com outros colecionadores, frequentar fóruns e comunidades virtuais sobre o tema oferecem uma boa visão sobre o valor daquela revista que está em sua prateleira.

  • postado Nikki Nixon às 7:20 PM


  • terça-feira, novembro 10, 2009

    SAGA DE XAM


    Mesmo com um exemplar em mãos de Saga de Xam, não foi fácil escrever sobre este álbum, que foi a primeira HQ a ganhar o status de arte pelos críticos e publicações da segunda metade dos anos 60. São poucas e dispersas as informações disponíveis na rede sobre a obra e seus autores.

    Em 1962 a revista “V-Magazine” começou a publicar Barbarella,de Jean-Claude Forest. O erotismo de Barbarella era algo novo para o quadrinho francês, que gerou certa polêmica. Então em 1964 o editor Eric Losfeld publicou Barbarella em formato álbum, e que causou escândalo pelo seu conteúdo criando o gênero "adulto" pela primeira vez para um livro em quadrinhos, mesmo com seu erotismo leve e da existência das “Tijuana Bibles” antes desta data.



    Com o sucesso de Barbarella, em 1964 Losfeld decidiu expandir suas publicações penetrando no então novo mercado de quadrinhos adultos. Na França, os quadrinhos em formato de revista ou tiras eram considerados como voltados ao público infantil, podendo sofrer vetos da censura da época em todo mundo, devido ao famigerado “Comic Code”, que para evitar problemas com o mesmo, Losfeld valeu-se de uma brecha na lei de que não havia qualquer tipo de veto previsto para edições em formato magazine ou livro. Apesar de serem mais caras eram bem distribuídas tornando-se de fácil acesso aos leitores. O resultado desta abordagem permitiu o sucesso de outros títulos através de sua editora, a “Le Terrain Vague”, cujos principais títulos foram:


    Barbarella, de Jean-Claude Forest – 12/1964

    Lone Sloane, de Philippe Druillet – 01/1966

    Scarlett Dream, de Gigi e Molitern - 06/1967

    Jodelle, de Pascal Thomas e Guy Pellaert – 10/1967

    Saga de Xam, de Jean Rollin e Nicolas Devil - 12/1967

    Pravda, de Pascal Thomas e Guy Pellaert – 01/1968

    Epoxy, de Jean Van Hamme e Paul Cuvelier - 04/1968

    Valentina, de Guido Crepax - 01/1969

    Phoebe zeit-geist (les aventures de), de Michael O’Donoghue e Frank Springer - 07/1969

    Cyber (Les aventures de), de Gérard Nery e Jean-Claude Poirier - 10/1969

    Xiris, de Serge San Juan - 02/1970

    Kris Kool, de Caza - 11/1970.



    Publicada em dezembro de 1967 por Eric Losfeld, Saga de Xam é um dos mais raros e autênticos exemplos de quadrinhos psicodélicos, o que representa inúmeras atividades culturais características da segunda metade dos anos sessenta.

    Narrado em um misto de ficção científica e erotismo, Saga trata de problemas ra­ciais, violência e não-violência. Uma extraterrena encarregada pela Grande Senhora do Planeta Xam vem à Terra em épocas diferentes, para aprender sobre o passado de violência e sobrevivência da raça humana, e estabelecer uma proteção psíquica contra os invasores do seu planeta. Mas na Terra deixa-se seduzir e adquire os vícios dos homens e, fascinada pela força e poder, deseja tornar Xam um planeta forte e vigoroso, mas sem violência.

    As belas pranchas de "Saga" foram originalmente desenhadas em formato grande, acima do padrão usual, onde além dos desenhos foram escritos diálogos e legendas em letras minúsculas.

    Impresso em papel de 300 gramas, com tiragem limitada em 5.000 exemplares, e nunca reimpresso, tornou-se extremamente rara e tem sido um dos álbuns em quadrinhos mais procurados por colecionadores em todo o mundo.



    Escrita pelo cineasta e roteirista francês Jean Rollin - Jean Michel Rollin Le Gentil – como um dos pioneiros no gênero terror-erótico, focou sempre no surrealismo através de imagens sensuais e macabras em seu gênero favorito: Vampiros.

    Saga de Xam, foi a sua primeira e única experiência como escritor no gênero das HQ’s.O erotismo apresentado foi um ensaio do que ele iria aplicar futuramente em seus filmes. Mais tarde escreveu dois artigos para a revista “Midi-Minuit Fantastique” editada por Eric Losefeld, e em 1993 publicou o romance “Les Deux Orphelines Vampires”, que posteriormente virou filme.



    Nicolas Devil (Nicolas Deville ??), trabalhava com Rollin auxiliando-o em seus curtas-metragens, que ao notar o seu talento como desenhista, incentivou-o a procurar Eric Losfeld com a proposta de um álbum feito por ambos. Na editora acabaram por conhecer o desenhista Philippe Druillet que colaborou na arte do álbum e que, posteriormente, ilustrou os cartazes dos filmes de Rollin.

    A arte de Devil foi sem dúvida alguma a razão do sucesso de Saga de Xam, que se valeu do uso da técnica de cadavrequix*, com a participação dos seguintes artistas: Phippe Druillet, Barbara Girard, Merri e Nicolas Kapnist. Nunca antes o uso da metalinguagem foi utilizado de forma tão ampla como neste álbum, em que cada capítulo tem sua peculiaridade nos símbolos, cores, desenhos e textos, sem perder o fio condutor da história.



    Diversos diálogos foram escritos em trës códigos diferentes, e ao final do álbum foi dada a equivalência de cada símbolo conforme nosso alfabeto. Para os textos escritos em caracteres minúsculos, e auxiliar a sua leitura, ao comprar o álbum o leitor ganhava uma lupa como brinde.

    Nicolas Devil conseguiu conjugar os principais estilos gráficos e artísticos que estavam em voga nos anos sessenta, para compor esse álbum que sintetiza o que havia de melhor na vanguarda da pop-art até então, e ainda, com essas imagens, contar uma história que com seu texto expressava toda a filosofia de paz e amor.



    Eric Losfeld faleceu em 1979, e sua esposa Pierrette deu sequência ao seu trabalho, dando lugar posteriormente a sua filha Joelle. Mas o grande mistério gira em torno de Nicolas Devil, cujo único trabalho registrado é Saga de Xam, dados como seu nome, idade, outras atividades ou qualquer informação sobre ele, não existem disponíveis nos atuais meios de busca, seu atual paradeiro é desconhecido.



    * Técnica adotada por artistas surrealistas para provocar a livre associação de imagens fora do contexto habitual. Trata-se de um jogo gráfico sobre papel dobrado. Consiste na realização de um desenho coletivo, sem que nenhum dos intervenientes saiba o que os outros fizeram, aproveitando apenas os traços de ligação deixados sobre as dobras do papel. Ao desdobrar, verifica-se, com surpresa, a relação inesperada entre as figuras desenhadas.

    Pelo seu caráter insólito, humorístico ou até provocativo, esta técnica proporciona resultados mais surpreendentes se o desenho for intencionalmente figurativo. Sugere-se que os trabalhos sejam pintados pelo grupo, numa 2ª etapa, já depois de observado o conjunto das ligações gráficas, cujo resultado foi imprevisível. A cor funcionará como elemento de ligação, tornando o desenho mais nítido.



    Rerências bibliográficas:


    http://it.wikipedia.org/wiki/Saga_de_Xam

    http://intercom.org.br/papers/nacionais/2002/Congresso2002_Anais/errata_2001_1.pdf

    http://www.answers.com/topic/jean-rollin

    http://www.ciencia-ficcion.com/comics/lonesloane.htm

    http://pilsenoubock.blogspot.com/2007/08/breve-apanhado-da-histria-dos.html

    http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89ric_Losfeld

    http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd/.../historia%20da%20midia%20visual/GT%20Midia%20Visual%20Flavio%20Calazans.doc

    http://www.bdabd.com/bdxm/editeur/eric.losfeld/detail.bdabd

    http://www.coolfrenchcomics.com/pravda.htm

    http://www.shockingimages.com/rollin/interview.htm

    http://cadavreexquis.com.sapo.pt/

    http://www.bedetheque.com/


  • postado Nikki Nixon às 9:55 PM